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Carlos Nobre critica negacionismo do governo Trump sobre a emergência climática: ‘Asneiras’

Segundo o cientista, o presidente discorda da ciência desenvolvida em seu próprio País, referência em pesquisas sobre clima




Carlos Nobre abriu o palco do teatro da Baía dos Vermelhos, no TEDx Ilhabela, no litoral de São Paulo

Foto: Beatriz Araujo/Terra

Para além da mitigação dos gases de efeito estufa, em si, há um grande desafio em torno do combate da crise climática: por mais que as pessoas acreditem se tratar de um assunto sério, em democracias, seguem elegendo políticos negacionistas. Como está acontecendo nos Estados Unidos, com Donald Trump, e no Brasil em nível de deputados, senadores, vereadores e prefeitos.  Foi o que afirmou o cientista climático Carlos Nobre, referência internacional na área, em entrevista ao Terra durante o evento TEDx Ilhabela.

No caso dos Estados Unidos, ele cita “asneiras” ditas por Trump, como a de que a crise climática seria uma questão de variabilidade natural, e não algo causado pelo ser humano. “Por que a população mundial está informada do risco da emergência climática e, ainda assim, continuam elegendo políticos populistas que não querem mudar nada?”, questiona o especialista.

“Os Estados Unidos são o país que mais tem e teve cientistas sobre mudanças climáticas da história. É o país que mais contribuiu para os relatórios do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU]. Como é possível ter um presidente que discorda da própria ciência dos Estados Unidos? É difícil de entender”, complementa.

Quando Donald Trump tomou posse como presidente, ele assinou um decreto de retirada do país do Acordo de Paris –assim como fez em seu primeiro mandato. A questão ainda espera para ser oficializada e, em paralelo, o país segue como membro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês). Mas, para além das questões burocráticas, seu governo tem promovido discursos de negacionismo climático.

Questão de emergência

Carlos Nobre participou da elaboração do primeiro relatório do IPCC, lançado em 1990. Até o momento, já foram lançados mais cinco relatórios – sendo o último referente a 2021-2022. “A ciência climática expandiu muito em todo o mundo e esses relatórios do IPCC mostram, claramente, que nós estamos em uma emergência. Nós nem mais chamamos de mudanças climáticas, chamamos de emergência climática”, explica.

O especialista relembra, ainda, que a frequência e intensidade de eventos extremos como ondas de calor, secas, incêndios florestais e chuvas excessivas estão aumentando exponencialmente em todo o mundo. “É devido ao aquecimento global, que nós somos responsáveis, não é um fenômeno natural”, afirma, citando os gases de efeito estufa gerados pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e agropecuária.

“Nós somos responsáveis por todos esses fenômenos extremos que estão batendo recordes em todo o mundo. Nós temos uma enorme responsabilidade, e a ciência deixa isso muito claro” – Carlos Nobre

Para mudar o cenário, é preciso reduzir as emissões “muito rapidamente”. E, em paralelo, ele cita a importância de que se crie um grande movimento de restauração florestal em todo o mundo – considerando o potencial das florestas de removerem o gás carbônico da atmosfera.

Dada a situação, ele frisa: “A COP30 tem que ser a mais importante das 30 COPs, fazendo com que todos os países se comprometam a reduzir muito rapidamente as emissões”. A Conferência das Partes será realizada em novembro, em Belém.

Por mais que seja claro para a comunidade científica que o ponto principal a ser debatido é o das emissões dos combustíveis fósseis, foi apenas na COP28, em Dubai, como explica Nobre, que o setor admitiu pela primeira vez concordar com a transição energética. Uma transição lenta.

“Então, nessa COP, agora, o setor dos combustíveis fósseis tem que aceitar uma super rápida transição energética para redução das emissões. Hoje 75% das emissões globais são por queima de combustíveis fósseis, e já foi até mais. Mas também está havendo a transição para energias renováveis, solar, eólica, hidrogênio verde. Então, esse potencial existe”.

A queima de combustíveis fósseis também é a maior razão de poluição urbana no mundo, segundo o pesquisador. “A poluição urbana em todo o mundo leva de seis a sete milhões de mortes. Em cidades muito poluídas, como São Paulo, a expectativa de vida é de dois a quatro anos menor”. Por isso, como pontua, falar em zerar os combustíveis fósseis é falar em combater a emergência climática e, também, em melhorar a saúde de bilhões de pessoas no mundo.

Fonte: Site Oficial Terra

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