Nos arquipélagos de Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo, Atol das Rocas, Trindade e Martin Vaz vivem espécies marinhas que não existem em nenhum outro lugar do mundo
Nas ilhas oceânicas brasileiras vivem muitas espécies marinhas que não existem em nenhum outro ponto do planeta, são exclusivas desses locais. A conclusão é de um estudo internacional que analisou mais de 7 mil espécies de peixes em 87 ilhas e arquipélagos ao redor do mundo. Os resultados revelam que o potencial de biodiversidade e endemismo desses ecossistemas tem sido historicamente subestimado, o que pode impactar diretamente políticas públicas e estratégias de conservação.
As chamadas ilhas oceânicas são aquelas muito distantes do litoral. No Brasil existem cinco delas:
- Fernando de Noronha
- São Pedro e São Paulo
- Atol das Rocas
- Trindade
- Martin Vaz
À parte Fernando de Noronha, onde há uma atividade turística intensa, as demais são santuários ecológicos, áreas de pesquisa científica e fechadas à visitação. Por serem muito isoladas, uma das principais características dessas ilhas é apresentar um ecossistema único e grande riqueza de biodiversidade.
“Percebemos que as ilhas brasileiras possuem uma importância muito maior do que pensávamos”, afirma o pesquisador Hudson Pinheiro, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e pesquisador do Centro de Biologia Marinha da USP (CEBIMar). “Elas quase não eram citadas quando se falava em endemismo, mas nossos dados e novas interpretações mostram que são verdadeiros laboratórios naturais da evolução das espécies.”
O trabalho, publicado no Peer Community Journal nesta quarta-feira, 10, e conduzido por Pinheiro em parceria com Luiz A. Rocha (Academia de Ciências da Califórnia) e Juan Pablo Quimbayo (Universidade de Miami), com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, atualiza a compreensão científica sobre endemismo marinho.
O estudo propõe o conceito de “endemismo insular-provincial”, que inclui não só espécies exclusivas de uma ilha específica, mas também aquelas que ocorrem em um conjunto de ilhas localizadas em uma mesma província biogeográfica, mas nunca no continente.
Segundo os pesquisadores, cerca de 40% das espécies endêmicas se enquadram nessa categoria e apresentam distribuição extremamente limitada — fator que as torna altamente vulneráveis. Ignorar essas espécies pode levar a interpretações erradas sobre a formação da biodiversidade e sobre quais áreas são mais vulneráveis aos impactos humanos, incluindo as mudanças climáticas.
O levantamento apontou que aproximadamente 12% da biodiversidade mundial de peixes de recifes é formada por espécies endêmicas de ilhas. Em alguns casos, ilhas distantes apresentam conexões genéticas mais fortes entre si do que com regiões continentais próximas — como ocorre com Santa Helena e Ascensão (territórios britânicos ultramarinos no Atlântico Sul) e com Galápagos e Rapa Nui (territórios do Equador e Chile, respectivamente, no Pacífico) —, desafiando ideias tradicionais sobre isolamento e dispersão de espécies.
“Algumas espécies endêmicas de Fernando de Noronha, por exemplo, ocorrem também no Atol das Rocas ou na Ilha de São Pedro e São Paulo, e vice-versa”, explica Pinheiro. “Mas são espécies que não colonizaram a região costeira. Portanto, como são ilhas que estão relativamente próximas, as espécies que ocorrem por lá são consideradas endêmicas pelo critério que propomos.”
O Arquipélago de São Pedro e São Paulo – localizado a cerca de 1.100 quilômetros de Natal (RN) – é uma das ilhas mais remotas do mundo. Devido ao isolamento, uma grande proporção de sua biodiversidade marinha ocorre exclusivamente em seus recifes rochosos. No entanto, alguns peixes encontrados no arquipélago existem também em outras ilhas oceânicas brasileiras, como Fernando de Noronha e Atol das Rocas, mas não no continente. Estes peixes são adaptados às condições oceânicas e exercem importante papel ecológico nas ilhas.
Essa nova interpretação permite um olhar mais abrangente para as políticas de conservação marinha.
“Dimensionar corretamente o tamanho e a vulnerabilidade das populações da fauna de um determinado ambiente é fundamental para as estratégias de proteção marinha”, argumenta o pesquisador. “Se o conhecimento é limitado ou restrito, as políticas de conservação tendem a ser limitadas também. E a presença de endemismo é uma das características consideradas para definir as áreas prioritárias para a conservação.”
Fonte: Site Oficial Terra