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Filha ajuda pais idosos a morrerem juntos e amplia debate sobre eutanásia

Resumo
Em 2021, Corinne Gregory ajudou seus pais idosos e doentes terminais, Eva e Druse Neumann, a morrerem juntos com assistência médica legal em Washington, destacando o amor, desafios éticos e o debate sobre a dignidade no fim da vida.




Pai escolheu partir junto com a esposa

Foto: Reprodução/People

Corinne Gregory tomou uma decisão inimaginável: ajudar ou não os pais a colocar fim às próprias vidas. Em 2021, a chef particular de Washington, nos Estados Unidos, escolheu auxiliar Eva e Druse Neumann a morrerem com assistência médica — um processo legal no estado. Hoje, aos 61 anos, ela contou a história à People e descreveu a experiência como um “paradoxo doloroso”.

“Nós sempre fomos unidos, uma família muito ligada”, diz Corinne, ao lembrar da relação com os pais, casados por décadas e inseparáveis até o fim.

Eva e Druse viveram por muitos anos em Long Beach, na Califórnia. Ela trabalhava como gerente de escritório em uma concessionária da Toyota; ele, em uma empresa de fornecimento elétrico. Após se aposentarem, mudaram-se para Washington para ficar perto da filha.

Mas a velhice trouxe desafios. Eva, então com 92 anos, acumulava problemas cardíacos, como infarto, cirurgia de stent e, em 2018, o diagnóstico de estenose aórtica. “Ela me chamou para conversar em um restaurante e foi como se uma mãe se sentasse com a filha para dizer que o Papai Noel não existe. Mas, em vez disso, ela me contou algo terrivelmente real”, lembra Corinne.

“Os médicos basicamente disseram que ela teria de 18 meses a dois anos de vida sem uma cirurgia bastante invasiva”.

A mãe, no entanto, rejeitou o procedimento. “Mesmo que fizesse o procedimento, não havia garantia de que viveria mais tempo. Então a atitude dela era meio que: ‘vamos deixar as coisas seguirem o curso'”.

Corinne e o pai tentaram aceitar a decisão. “A verdade é que nunca sabemos quanto tempo temos. E ouvir alguém colocar um prazo nisso, mesmo que hipotético, é uma realidade dura. Então você apenas lida com isso e tenta aproveitar cada dia, o que ela, de fato, fez”.

Eva manteve uma rotina ativa até abril de 2021, quando caiu em casa durante a madrugada e bateu a cabeça em uma estante. “Meu pai ligou em completo desespero”, conta Corinne. A queda resultou em hospitalização e reabilitação, e pouco depois, Druse, de 95 anos, começou a apresentar sintomas de derrame. 

A partir daí, os dois foram internados e depois encaminhados para o mesmo centro de reabilitação. “Eles começaram a perder a vontade de viver”, relata Corinne, que decidiu levá-los de volta para casa. Pouco depois, os médicos sugeriram cuidados paliativos para Eva. “Minha primeira reação foi: você só pode estar brincando. Essa é uma mulher cheia de vida, de brilho. Então ouvir ‘considere os cuidados de fim de vida’ foi um choque completo”.

A filha logo percebeu que a mãe não temia a morte. Eva decidiu, então, recorrer à Lei da Morte com Dignidade, em vigor no estado desde 2008, que permite que pacientes com doenças terminais encerrem a vida com medicação letal administrada por conta própria.

Mas a decisão abalou o pai.

“Tive uma conversa muito séria com ele, depois que minha mãe foi dormir. Ele estava em pânico: ‘O que acontece comigo se ela for antes?’ Ele não conseguia imaginar continuar vivendo sem ela”.

Após refletir, o pai fez seu próprio pedido. “Ele sempre teve medo de morrer. Mas acho que o medo de ficar sozinho era ainda maior. Ele dizia: ‘Se ela vai e eu posso ir junto, então vou com ela.’ E eu disse: ‘Ok, vamos resolver isso'”.



Druse e Eva Neumann

Foto: Reprodução/People

Corinne passou então a buscar a elegibilidade do pai para o procedimento. “Foi surreal estar, na prática, defendendo a morte do meu próprio pai”, ressalta. Com histórico de pequenos derrames, ele foi autorizado a participar. “É, de certo modo, o paradoxo mais doloroso que existe: a última coisa que você quer é ver sua mãe partir, e ainda assim é você quem está ajudando nisso'”.

Nas semanas seguintes, ela preparou jantares especiais e reviveu lembranças da infância como forma de retibuir todo o carinho que recebeu dos pais.

A escolha do dia

No dia 27 de julho de 2021, véspera do aniversário de Eva, Corinne recebeu as medicações letais. “O rapaz da farmácia trazia dois pacotes brancos, grampeados. Um com o nome da minha mãe, outro com o do meu pai. Eu agora era a guardiã do pó mortal'”.

A família ainda brincou ao escolher a data. “Eu disse: ‘Tenho uma ideia ridícula: sexta-feira 13 está chegando, vamos fazer nesse dia! Estou brincando!’ E minha mãe responde: ‘Tudo bem, pode ser'”. Assim, Eva e Druse decidiram morrer juntos em 13 de agosto de 2021.

Na véspera, Corinne preparou o jantar de despedida.

“Chamamos de Último Happy Hour, em vez de Última Ceia. Preparei os petiscos preferidos do meu pai, brindamos com vinho, depois ele foi dormir. Eu e minha mãe ficamos conversando na varanda até que ela foi para a cama. Pedi para deitar um pouco com ela… foi perfeito”.

Na manhã seguinte, Corinne e o marido estavam na casa dos pais, acompanhados de duas conselheiras da organização End of Life Washington, que orienta famílias no processo. “Elas prepararam o coquetel, conversamos, trocamos momentos íntimos. Meus pais se sentaram na cama, de mãos dadas, e conversaram antes de tomar o remédio. Colocamos uma música, brindamos com uma taça de vinho e eles beberam. Cerca de dez minutos depois, adormeceram”.

“O processo pode levar horas, mas no caso deles, em menos de uma hora, já tinham partido. A música continuava tocando e nós ficamos ali com eles”.

Ao meio-dia, a enfermeira confirmou oficialmente as mortes. Corinne permaneceu ao lado dos corpos. Naquela noite, desabou. “Eles estavam indo para um lugar onde eu não poderia acompanhá-los, e isso é simplesmente incompreensível”.

Hoje, Corinne compartilha a experiência como forma de ampliar o debate sobre a morte. “Precisamos falar sobre ela. Vai acontecer conosco, e ter medo não vai impedir”.

“O que acho absurdo é que podemos, como humanos, aliviar o sofrimento dos nossos animais e ninguém questiona isso,mas em tantos estados não podemos aliviar o sofrimento das pessoas que mais amamos. Se chegou a nossa hora, deveríamos ter opções”.

Fonte: Site Oficial Terra

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