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1ª desfile de Gisele e + histórias de 30 anos de cobertura

Nesta segunda-feira (13) começa a 60ª edição do São Paulo Fashion Week, com 38 desfiles e a apresentação de alguns nomes que fazem e fizeram parte da história do evento, como Ronaldo Fraga, Gloria Coelho, Amir Slama, Alexandre Herchcovitch e Lino Villaventura. Destes, apenas Lino desfilou todas as edições.




1ª matéria do Morumbi Fashion, publicada no DGABC, em 24 de julho de 1996 (Reprodução)

Foto: Elas no Tapete Vermelho

E para comemorar estas três décadas de evento, me dou ao luxo de escrever em primeira pessoa. Afinal, como jornalista de moda, entre outros assuntos, desde a década de 1980, cobri todas as edições do SPFW, desde o primeiro, em julho de 1996, quando se chamava Morumbi Fashion. Sim, eu estava lá, sob as marquises do Ibirapuera, ao lado do Museu de Arte Moderna, presenciando o nascimento deste capítulo fashion do país, criado por Paulo Borges, até hoje na direção do evento.

Editava o caderno Dia a Dia, do Diário do Grande ABC, onde trabalhei de 1985 a 2008 – com um hiato de um ano (entre 1989 e 1990), em que atuei na revista Claudia Moda. Para escrever esta matéria, voltei ao DGABC na última semana, para vasculhar algumas matérias que escrevi ou editei desde o então Morumbi Fashion.



Gisele Bündchen no desfile de Renato Loureiro no 1º dia do 1º Morumbi Fashion, em 1996

Foto: Rivaldo Gomes/Cortesia DGABC/Reprodução proibida sem autorização / Elas no Tapete Vermelho

E nesse momento retorno ao título deste texto, sobre o 1º desfile de Gisele Bündchen no evento. Na minha memória, a imagem que vinha à minha cabeça como sendo o primeiro desfile era ela de vestido vermelho com um gatinho no colo. Mas a realidade é outra. Ao achar o texto sobre o primeiro dia de desfiles do Morumbi Fashion, sob o título “Grifes apostam na mulher longílinea”, vi que uma das duas fotos que o ilustravam era ninguém menos que a então quase estreante Gisele, com seus 15 ou 16 anos.



Matéria do DGABC de 2005, em que aparece Gisele. Shirley Mallmann e Kate Moss, em edições passadas do evento

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

Esse desfile com o gatinho foi no ano seguinte, em 21 de fevereiro de 1997. Mas naquele ano, ela já era quase uma superstar. E aqui vai uma mea-culpa. Em um texto meu de 2005 (acima), ilustrado com a foto do gatinho, escrevi que ela havia “estreado” na terceira edição. Errei. E erro no impresso fica para sempre. Mas justifico: quem era aquela garota que desfilou para Renato Loureiro e M.Officer (e talvez mais alguma grife no primeiro Morumbi Fashion?). Quase ninguém a conhecia, não é?

Levei um susto, porque quase 30 anos depois, aquela primeira imagem, que ilustrou a matéria publicada em 24 de julho de 1996, tinha simplesmente apagado do meu “disco rígido cerebral”. Conseguimos achar o negativo da foto (nada era digital naquela época), clicada pelo repórter fotográfico Rivaldo Gomes (reproduzida aqui com a autorização do Diário do Grande ABC, assim como os fac-símiles de várias coberturas do evento publicadas no jornal). Há apenas dois cliques dela, publicados aqui, escaneados manualmente. Então, sim, eu esqueci o primeiro desfile que vi de Gisele Bündchen no então Morumbi Fashion. E mais uma coisinha: fui um pouco ácida no texto, assinado com a repórter Isabel Ribeiro. Acho que hoje, quase 30 anos depois, teria outra opinião sobre alguns dos desfiles.

E explicando por que se comemora 30 anos, uma vez que o evento começou em julho de 1996. Primeiro, porque é uma data redonda e, pelo sim, pelo não, estamos no trigésimo ano de existência dele (a partir da data que se nasce, vive-se o primeiro ano de sua vida, não é?).

Com essa introdução, convido os leitores a revisitarem comigo algumas das coberturas que fiz do evento que chegou ao número 60. E algumas curiosidades.

Por que edição 60?

Porque em 2012, para ajustar o calendário de moda, o evento teve três edições. Antes era apresentado em janeiro e junho ou julho, passando a ser apresentado em outubro/novembro (inverno) e março/abril (verão). Hoje as edições já não têm estações definidas, nem as roupas demoram seis meses para chegar às lojas. Na maioria das vezes, as vendas já são imediatas a partir dos desfiles. Sim, a internet mudou tudo. E vai mais uma explicação. Em abril de 2020, a edição 49 foi cancelada, mas o número foi mantido. Em outubro, a edição 100% virtual, por causa da pandemia, foi a 50ª, para comemorar os 25 anos do evento. E a partir desta segunda-feira (13), começa a de número 60.

Gisele Bündchen no 1º Morumbi Fashion



Gisele Bündchen no desfile de Renato Loureiro no 1º dia do 1º Morumbi Fashion, em 22/7/1996

Foto: Rivaldo Gomes/Cortesia DGABC/Reprodução proibida sem autorização / Elas no Tapete Vermelho

A jovem modelo ficou entre as finalistas do concurso “New Look Of The Year”, em 1994. Em 1996, estava despontando nas passarelas e tinha estrelado o catálogo da grife Zoomp. Na primeira edição do Morumbi Fashion, só posso dar a certeza de que ela desfilou no primeiro dia de agenda cheia para o estilista Renato Loureiro (dia 22 de julho).



Cobertura final da 1ª edição do Morumbi Fashion no DGABC – no canto inferior à direita, Gisele Bündchen

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

E também no segundo dia (23 de julho), para a M.Officer, porque na matéria que fiz resumindo as tendências do evento, publicada dois dias depois do encerramento da semana de moda, dia 28 de julho, coloquei uma pequena foto dela, ao lado da também adolescente Gianne Albertoni. Só descobri isso, na pesquisa da última semana. A primeira edição teve 31 desfiles e ocorreu do dia 21 (neste dia, houve apenas um desfile do designer Patrick Cox) ao dia 26 de julho daquele ano.

O último desfile de Gisele Bündchen no SPFW



Matéria do último desfile de Gisele Bündchen no SPFW publicada no Portal Terra

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

Sim, eu também estava lá, no último desfile da top model no SPFW e da carreira dela, em abril de 2015, para a Colcci. Nunca mais voltou a desfilar para nenhuma marca. Apenas cruzou a passarela durante a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, com um vestido longo, prateado e com fenda poderosa de Alexandre Herchcovitch, que também desfilou no primeiro dia do Morumbi Fashion. E confesso, chorei na despedida da ubermodel. E confesso, também, foi um privilégio presenciar este momento da moda brasileira.



Eu esperando abrir porta da sala do último desfile de Gisele Bündchen, em 2015

Foto: Acervo pessoal / Elas no Tapete Vermelho

No texto que escrevi para o Portal Terra, casa que me abrigou desde 2009 e da qual continuo parceira, desde 2017, com meu site “Elas no Tapete Vermelho”, escrevi na abertura: “Sim, gente, foi emocionante. As centenas de privilegiados que se espremeram na sala dois da tenda armada no Parque Cândido Portinari puderam ver, com lágrimas nos olhos, inclusive essa que escreve, os últimos passos largos e marcados de Gisele Bündchen na passarela”.

E finalizei: “E chorei ao ver que a hoje todo-poderosa Gisele, que mudou os paradigmas da moda mundial, ao acabar com aquela história de heroin-chic (conceito de mulheres esquálidas e com aparência doentia que reinou na moda nos anos 90 depois do boom das top models dos anos 80), também foi às lágrimas ao virar de costas para os fotógrafos e dar seus últimos passos sobre uma passarela. Ela pode até voltar algum dia, mas essa imagem ficará marcada nas nossas retinas para sempre, como alguém que viu o milésimo gol de Pelé. Não há como terminar esse texto sem essas palavras: Obrigada, Gisele!”

Famosos nas passarelas

Até hoje, é um frisson quando famosos desfilam ou assistem da primeira fila às apresentações das grifes. Atualmente, muitos influenciadores substituíram os famosos da TV e do cinema. Muitas vezes, vira perrengue. Outras vezes, vira tumulto. Acontece.

Vamos lembrar algumas celebridades. Teve Kate Moss para Ellus, em julho de 1999, para o desfile e campanha de verão 2000 da marca de jeanswear.



Matéria do DGABC de janeiro de 2004, com Naomi Campell para a Rosa Chá em destaque

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

Naomi Campbell também desfilou para a Rosa Chá, comandada por Amir Slama, em 2003 e 2004, sua moda praia cheia de estilo. A socialite e hoje influenciadora norte-americana Paris Hilton desfilou em 2010 e 2011 para a Triton.

A Colcci dominou a contratação de famosos em seus desfiles. Além de Gisele, que desfilou por 10 anos para a marca, teve Ashton Kutcher, em janeiro de 2012, que fez apenas uma aparição relâmpago no fim da apresentação. Mesmo assim, sua chegada à Bienal causou tumulto de gente que queria ver a todo custo o astro norte-americano. Foi uma loucura. E nós, repórteres, ficávamos loucos também. Lembrando: um ano antes, ele já havia desfilado para a marca.

Outro nome a desfilar para a Colcci foi Paul Walker, em março de 2013. O ator desfilou ao lado das modelos Izabel Goulart e Erin Heatherton. E também fez campanha para a marca. Mas, com seu falecimento em novembro do mesmo ano, suas fotos foram removidas das peças publicitárias.



Ana Hickmann e Daniella Cicarelli ilustrram matéria de 2005 do DGABC

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

Ana Hickmann, que estreou na passarela do Morumbi Fashion, em 1996, para Walter Rodrigues, também desfilou outras vezes. Quase 10 anos depois, em janeiro de 2005, apresentou-se para o estilista Fause Haten.

Teve ainda Ivete Sangalo (para a Neon, em 2007), Vera Fischer (para a Forum, já na primeira edição do Morumbi Fashion, em julho de 1996); teve Angélica (para o estilista Carlos Tufvesson, em 2006); teve Xuxa (para a Ellus, em 2005); Sonia Braga (para a grife Adriana Degreas, em 2011); Cauã Reymond (para a Colcci, em 2010, e para Alexandre Herchcovitch, em 2012); Grazi Massafera (para Samuel Cirnansck, em 2011). Confesso, recorri à pesquisa na internet para lembrar as datas e as grifes. E não tenho todas as fotos disponíveis.



Sasha abriu o desfile com um top tipo biquíni, com detalhe dourado, calça com sobressaia por cima, brincos longos e sandália azul

Foto: Rosângela Espinossi / Elas no Tapete Vermelho

Mais recentemente, teve Sasha para a Misci (com a presença de Xuxa na plateia, em 2021 e em 2022); a ex-BBB Beatriz Reis, para a LED; Camila Queiroz, para a Bold Strap; Deborah Secco, para Meninos Rei e outras; Tici Pinheiro, estreando na passarela do evento, para Lino Villaventura, em 2024 e 2025; Gaby Amarantos, para a Dendezeiro e Normando (2025). E a saga continua.



Deborah Secco

Foto: Agência BrazilNews / Elas no Tapete Vermelho

Perrengues da cobertura

Um dos principais perrengues numa cobertura de moda é tentar, tentar e tentar falar com um famoso e a pessoa esnobar. Ou então os seguranças e assessores barrarem sua entrada para conseguir uma aspa.

Ronaldo Fenômeno, hoje casado com a modelo Celina Locks, frequentou a plateia do SPFW quando estava com outras companheiras. Em junho de 2004, todas as atenções se voltaram para ele na primeira fila para ver sua então namorada Daniella Cicarelli, que desfilou para a Cia.Marítima. Em fevereiro de 2005, se casaram e três meses depois, se divorciaram.

Pois bem, um ano depois de Ronaldo assistir ao desfile de sua ex-mulher, apareceu de novo no evento e causou o mesmo frisson. Dessa vez, para o desfile da Rosa Chá e para ver seu novo affair, a modelo Raica Oliveira. E aí, claro, eu queria falar com ele. Não consegui, mas fiquei no meio de um trilhão e 900 mil jornalistas e fãs que se aglomeraram na boca da passarela paratentar entrar no backstage.



Daniella Cicarelli, em 2004, e Raica Oliveira, em 2005, com Ronaldo na plateia (Fotos: Reprodução)

Foto: Elas no Tapete Vermelho

Era cotovelada para cá, lente de fotógrafo para lá. Empurra, empurra… Detalhe: eu tinha quebrado quatro costelas por causa de uma queda de cavalo um mês e meio antes. Continuava com dor, muita, ainda mais com os empurrões no meio da muvuca… mas consegui entrar. Não falei com ele, mas falei com Raica. Ela me disse que “eram apenas amigos e que queria focar na profissão”. Sim, sim, acreditei. Respirei fundo, tomei um analgésico e redigi a matéria.

Houve vários outros perrengues e algumas polêmicas. Os atrasos de horas e horas, algumas vezes, mais de três horas para começar os desfiles, viraram praxe por várias edições. Agora está melhor, mas ainda acontecem. Um deles foi por conta de gravação de novela. Outro, porque uma jornalista de moda tinha que entrar ao vivo, em determinado horário, e tivemos que esperar a hora certa para o início da apresentação. Outros atrasos são por conta de cruzamentos de modelos (desfilam para uma marca e, na sequência,  para outra, tendo que mudar cabelo, maquiagem e, às vezes, até esmalte).

Além das passarelas

Nem sempre cobri só os desfiles. Em várias edições, ficava com matérias periféricas, de bastidores, de corredores, falando com o público, com maquiadores, com estilistas, com modelos.



Arlindo Grund e eu em 2015, no SPFW

Foto: Acervo Pessoal / Elas no Tapete Vermelho

Nessas horas, uma das que mais me dava prazer era dar uma volta com meu amigo Arlindo Grund para ele comentar os looks do público para notas no Portal Terra. No auge do programa “Esquadrão da Moda”, do SBT, que apresentava com Isabella Fiorentino, dávamos um passo e era um pedido de foto, outro, e mais uma foto. Bom, até hoje, ele é requisitado. E sempre com sua simpatia inerente, atende a todos.



Matéria feita com Arlindo Grund para o Terra, mem 2012

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

Negros, índios, plus size e comunidade LGBT+

Se o Morumbi Fashion começou em 1996 com grifes consolidadas e outras iniciantes, além de modelos de até 13 anos desfilando, com o tempo a direção do evento, na figura de Paulo Borges, foi se adaptando aos anseios de movimentos minoritários e que não tinham tanta visibilidade na moda. Hoje, só pode desfilar modelos com idade a partir dos 16 anos. Em 2009, na 27ª edição, houve um Termo de Ajustamento de Conduta assinado entre o Ministério Público e a Luminosidade, empresa que produz o SPFW, para que cada grife tivesse 10% de negros, indígenas ou afrodescendentes em suas apresentações.



Rita Carreira em desfile de AZ Marias no SPFW

Foto: SPFW/Divulgação / Elas no Tapete Vermelho

Em 2020, a edição de abril foi cancelada, por conta da pandemia; em novembro, a edição foi totalmente digital, e em abril de 2021, também. Além de digital, todas as grifes tinham que ter 50% de modelos negros, indígenas e afrodescendentes. Hoje, a obrigação continua, mas de forma natural, as grifes mantêm os modelos em seus castings, muitas vezes, com presença superior à cota.



Chamadas das matérias sobre modelos indígena e negra nos desfiles de SPFW em 2022

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

Antes da exigência, em abril de 2019, a modelo negra Amira Pinheiro foi recordista de desfiles da edição. Em entrevista exclusiva ao “Elas no Tapete Vermelho”, ela cravou: “(Ter modelos negros na passarela) não deveria ser um tabu, ainda mais numa sociedade como a nossa, que tem a população mais miscigenada do planeta. Deveria ser uma coisa normal desde os primórdios da moda no Brasil”. Em junho de 2022, a top indígena Dandara Queiroz bateu o recorde de desfiles. Na edição seguinte, em novembro, a plus size Rita Carreira foi a que mais desfilou no evento.



Plus size no SPFW

Foto: Brazil News / Elas no Tapete Vermelho

A presença de modelos plus size nos desfiles teve um aumento, principalmente durante e logo depois da pandemia. Uma conquista que deveria ser mantida. Mas, aos poucos, parece que o chamado “Efeito Ozempic” vem se impondo, com a volta de tops mais magras nas passarelas do evento e em outras passarelas mundo afora. Uma pena.



Maya Massafera no SPFW

Foto: Andy Santana/Brazil News / Elas no Tapete Vermelho

O SPFW foi palco também de modelos trans na passarela — e não de agora. Em 2011, a top Lea T. desfilou para Alexandre Herchcovitch, que também levou à passarela Valentina Sampaio, quando desenhava para À La Garçonne, em 2016. Isa Silva, estilista trans, também mostrou suas coleções no evento. Recentemente, Maya Massafera. E hoje, modelo trans na passarela já nem é quase notícia. E isso é bom, porque sua presença já está internalizada em nossas mentes.

Desfile marcante

Assisti a centenas (ou seria milhares?) de desfiles durante as até agora 59 edições do SPFW, inclusive todos os digitais, durante a pandemia. Muitos me marcaram e me fizeram refletir e chorar. Outros, me perguntei o que estava fazendo lá, vendo roupas que não condiziam com o tamanho do evento. Mas se tiver que apontar apenas um icônico, fico com o “Costura do Invisível” (ou “Desfile de Papel”), de Jum Nakao, que criou dezenas de roupas de papel, com várias técnicas de texturização, renda e corte a laser e dobraduras.



Matéria pequena do dia de desfiles em que houve a apresentação de Jun Nakao, em 2004, no DGABC

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

As modelos entravam com perucas tipo playmobil, desfilando aquelas vestes amplas, potentes e tão delicadas. Eu só pensava: “Como vão guardar esses vestidos depois?”. A resposta veio no fim da apresentação: todas as peças foram rasgadas na passarela. Um grito ficou suspenso no ar. Eu coloquei a mão na boca e prendi a respiração. Como o espaço do jornal impresso era pequeno, precisei resumir a emoção em poucas linhas.



Matéria de 2005 sobre o lançamento do livro “Costura do Invísivel”, de Jun Nakao, no DGABC (Foto; Reprodução)

Foto: Elas no Tapete Vermelho

Toda a performance virou livro e documentário e foi reconhecida como uma das maiores passarelas do século pelo Museu de Moda da França (Musée Galliera). Jum Nakao nunca mais desfilou, mas também nunca abandonou o mundo da moda: é professor e consultor. Está indicado ao Latin American Fashion Awards 2025, na categoria Projeto Responsável.

Morte na passarela

No dia 27 de abril de 2019, na passarela armada no espaço ARCA, Zona Oeste de São Paulo, presenciei uma das cenas mais fortes que se pode ver num desfile de moda. O modelo Tales Cotta desfilava para a marca Ocksa, teve um mal súbito, caiu no chão durante a apresentação e, um tempo depois, foi confirmada sua morte, devido a um problema congênito no coração.



Matéria sobre a morte do modelo Tales Cotta, publicada em abril de 2019

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

O mundo fashion veio abaixo. Muitos acusaram o evento de negligência. Alguns coleguinhas publicaram ilações sobre pouca comida nos camarins, exigências feitas aos modelos etc. Depois de dar o factual e a notícia da morte — só após a confirmação pela direção do evento —, fui à repercussão.

Consegui falar com a mãe de Tales, Heloisa, no dia seguinte. Ela, que estava vendo o desfile pela internet, não se deu conta na hora do que estava acontecendo. E, com uma serenidade admirável, me disse por mensagem, sobre a polêmica de parar ou não o evento por causa da morte do filho: “Cancelar iria trazê-lo de volta? Nem ele gostaria disso. Era muito profissional.” Confesso, foi a cobertura mais triste de minha vida.

Conclusão sem fim

Este texto é longo e não há conclusão ainda, porque estarei mais uma vez na 60ª edição. Não sei até quando continuarei cobrindo o SPFW, que passou a se chamar assim em 2001, na 10ª edição do evento.



Matéria do DGABC sobre a 10ª edição do evento, em 2001, que passaria a se chamar SPFW

Foto: Reprodução / Elas no Tapete Vermelho

Comecei na era analógica, quando rolos de filmes eram entregues a motoristas do jornal para levar à redação antes do fechamento, e as matérias eram passadas por telefone fixo da sala de imprensa ou por fax aos coleguinhas de plantão. O espaço era reduzido, e tínhamos poucos centímetros de texto e pouco para resumir um dia todo de evento, além de pouco espaço para fotos.

Nos fins dos anos 1990 e começo de 2000, teve também a entrada dos telefones celulares — mesmo sem internet —, o que facilitou ditar as matérias para a redação. Na plateia, todo mundo acendia as lanternas de seus “tijolões” quando as luzes se apagavam.

Depois veio a era digital, no início dos anos 2000, para, além do impresso, também sair no site do jornal. Era uma corrida para pegar, após os desfiles, os poucos computadores com internet disponíveis nas ilhas espalhadas pela Bienal do Ibirapuera. Aí entraram as blogueiras — hoje influencers —, na disputa com a imprensa especializada.

Bom, hoje não há mais segredos. Tudo é instantâneo. Mas continuo com a mesma cabeça de quando comecei e que relatei num texto escrito em 2010, para o Terra, sobre coberturas de desfiles de moda, o que faço desde os anos 1980:

“O Terra me pede para escrever em primeira pessoa como é o trabalho de cobrir esse universo da moda. Para falar a verdade, acho que não há fórmula fechada, tipo aquela da raiz quadrada que a gente aprende no colégio. Mesmo porque cada desfile é único, pessoal e intransferível. Acho que a única fórmula possível para seguir anos e anos nessa toada é se despir. Sim, se despir de qualquer afetação, preconceito e deslumbramento.”

“É estudar, ler, conhecer, refletir e questionar. E tentar decifrar, dentro desse universo mutante — e, por isso mesmo, fascinante —, mais do que a cor da roupa ou o tecido usado. É perceber que, naquela história contada em, no máximo, dez minutos, há todo um anseio coletivo, que sai das ruas e vai para as passarelas, que leva para as araras e que volta para a rua. Isso é traduzido tanto em desejo quanto em números concretos, refletidos na economia.”

É isso. E, se errei algo, por favor, me corrijam. E me permito aqui despender mais um espaço de texto para citar nomes de repórteres que me ajudaram nessa jornada, tanto no Diário do Grande ABC quanto no Terra e no Elas no Tapete Vermelho — afinal, ninguém faz nada sozinho: Isabel Ribeiro, Rosana Ferreira, Michelle Achkar, Christiane Ferreira, Ana Lucia Moraes (in memorian) Luciana Bugni, Miriam Gimenez, Ângela Correia e Patrícia Zwipp (ainda minha parceira diária no site). Recentemente, a estudante de jornalismo Giovanna Montanhan e, na retaguarda das redes sociais, Rafaela Sonin. Se faltou alguém, gritem aqui.

Fui… acompanhar mais um SPFW. Me acompanhem por aqui e no Instagram do Elas no Tapete Vermelho.



Fonte: Site Oficial Terra

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