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Etanol e inclusão: como o Brasil pode atuar na transição energética

Ao debater soluções energéticas e a indústria do futuro, lideranças do setor público e privado falar sobre os desafios e as soluções envolvendo a transição energética no Brasil.

As declarações foram feitas no terceiro painel do CNN Talks – COP30, que aconteceu nesta quarta-feira (15), em Brasília, logo após a pré-COP oficial.

Como voz do setor público, Julia Cruz, secretária nacional de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), diz não enxergar a transição energética apenas como uma espécie de “projeto ambiental”, mas sim um projeto de desenvolvimento para o Brasil.

“Estamos pensando em um projeto de desenvolvimento, o que significa que estamos sim transicionando para uma indústria mais verde, para uma indústria mais inclusiva, porque é impossível fazer uma coisa sem a outra”, disse a painelista.

Cruz adicionou que há uma transformação de recursos que estão sendo mobilizados no setor para o que chama de “impactos mensuráveis”, como emissões evitadas, tecnologia desenvolvida e emprego e renda, além de projetos piloto de investimentos sustentáveis no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por exemplo, mas que visam focar em indústrias que emitem mais carbono, como plásticos e químicos.

A secretária nacional de Economia Verde também mencionou o “financiamento com condicionalidade verde”, que atrela o prazo do financiamento e o valor da taxa de juros a quantidade de emissões reduzidas, que serviriam como medidas de transição para curto prazo.

Outra voz do poder público presente no painel do CNN Talks COP30 foi o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP).

Jardim, que preside a Comissão Especial sobre Transição Energética e Produção de Hidrogênio Verde, optou por realizar um balanço sobre como o Congresso brasileiro tem acompanhado o tema da transição energética.

“Conseguimos produzir recentemente o Marco Regulatório do Hidrogênio de Baixo Carbono”, disse Jardim.

“A nossa matriz de biocombustível é sem paralelo no mundo. Porque nós acrescentamos afora o biometano, o combustível sustentável de aviação, e não só em número e metas, que são ousadas, mas é o mais avançado no mundo quando decidimos que mediremos a pesada de carbono do berço ao túmulo.”

“Conseguimos aprovar esse projeto no Parlamento com mais de 480 votos de 513. Isso dá uma garantia de que não será uma política de governo, será uma política de Estado. Acho mais, acho que estamos encontrando uma vertente para afirmar um projeto de desenvolvimento nacional do Brasil”, adicionou o parlamentar.

Jardim afirma que o modelo de transição energética e energias renováveis poderia construir uma marca para o país, um tipo de “eixo condutor”. 

Já no setor privado, João Irineu, vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis para a América do Sul, o etanol é um ponto de atenção no setor de transição energética do Brasil. Isso porque o combustível tem baixa emissão de carbono, além ser renovável.

Irineu complementa que a empresa vende hoje 30% de etanol e 70% de gasolina para veículos leves, de passeio e comerciais.

“Podemos fazer esse trabalho de eletrificação de uma forma gradual, de fazer uma transição equilibrada, do ponto de vista ambiental, do ponto de vista econômico e principalmente social. Nós não precisamos de mudanças disruptivas no setor automotivo para fazer a descarbonização acontecer”, defendeu o VP de assuntos regulatórios da Stellantis para a América Latina.

O CEO da Copersucar, Tomás Manzano, acrescentou que o modelo brasileiro de mistura do etanol anidro na gasolina, em que há uma mistura de 30%, é um modelo mais efetivo de redução das emissões aproveitando as estruturas existentes, como postos de gasolina.

De acordo com ele, esse modelo pode ser replicado para o exterior, como a Índia.

Expectativas e oportunidades para a COP30

“Estamos em um caminho de aceleração”, disse Ben Backwell, CEO GWEC (Conselho Global de Energia Eólica) e presidente da Global Renewables Alliance, ao ser questionado durante o painel.

“Em grande parte é solar, que está crescendo mais forte do que qualquer outra tecnologia. Eólica, depois hidrogênio verde e hidroelétrica”.

Dentre os desafios, ele cita a planificação. Segundo com ele, o investimento exigiria muito mais tempo e burocracia. Além disso, há a questão do financiamento como desafio, pela concentração dos grandes centros financeiros do mundo para energias renováveis, como a China ou em países da Europa.

Para alguns, como Backwell, COP é uma oportunidade para mostrar união em relação às metas do clima e de energia, e, segundo sele, não há “país melhor” para mostrar  unidade.

Já para outros, como Julia Cruz, também é importante que o mundo veja não apenas o simbolismo de realizar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 na Amazônia, mas também as soluções para as desigualdades locais.

“Em regiões muito empobrecidas, é importante dar para a população uma alternativa de desenvolvimento. Porque se não fatalmente vai se cair em atividades predatórias”, complementa a secretária do Mdic, citando tráfico de drogas e garimpo, por exemplo.

De acordo com ela, biocombustíveis podem ser considerados soluções interessantes não apenas pela tradução brasileira na área mas pela capacidade de desconcentração de renda regional e pelo tamanho dos empreendimentos.

Microbiorefinarias podem existir em contêineres, por exemplo, como um produtor de castanha, é possível utilizar os resíduos da própria produção para gerar produtos químicos e combustíveis.

“Com política pública que permite que essa tecnologia chegue no produtor, o ‘bio’ tem um grande potencial de desconcentração regional e de desconcentração de renda.”

Fonte: Site Oficial CNN Brasil

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