Remake de ‘Vale Tudo’ foi novela para não ser levada a sério

Vale Tudo chegou ao fim na noite desta sexta-feira, 17. Remake de um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira, a novela escrita por Manuela Dias teve desfeche típico: casamentos, baby boom e final feliz para os mocinhos.

A surpresa ficou por conta da revelação do assassino da vilã Odete Roitman, exibido no último bloco do capítulo. Cercado de expectativa, o final da vilã colocou novamente a pergunta na boca do telespectador: Quem matou Odete Roitman?

Dentre os cinco suspeitos: Marco Aurélio, César, Celina, Heleninha e Maria de Fátima, o escolhido foi o primeiro. Braço direito de Odete na TCA, o empresário foi pego desviando dinheiro da empresa. E dinheiro era tudo para Odete – e para a novela também.

Com a sombra da irretocável primeira versão, exibida entre 1988 e 1989, criada por Gilberto Braga, e escrita por ele em afiada parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, o remake de Vale Tudo demorou para engrenar na audiência e, de início, suscitou, mais uma vez, a velha discussão se a telenovela já não é um formato superado.

Ao levar em conta o aspecto comercial, Vale Tudo foi um sucesso. Como mostrou uma reportagem do Estadão, foram 87 ações publicitárias dentro da novela, de 23 marcas de setores diversos.

Em cenas decisivas ou banais, lá estavam eles, os ‘merchans’. Enquanto Odete era supostamente assassinada, o casal Solange e Afonso, esse, na trama, filho de Odete, falava sobre amaciante de roupas. O casal de mocinhos, Raquel e Ivan, na falta de história para contar, testava a internet na nova casa que haviam acabado de comprar.

A Globo não divulga os valores, mas sabe-se que Vale Tudo foi a novela de maior faturamento da história da emissora até hoje.

Enquanto o segredo sobre quem matou Odete Roitman foi bem guardado – a emissora divulgou que gravou os cinco suspeitos apertando o gatilho contra a vilã -, a Dove, um dos patrocinadores da novela, parecia saber muito bem que Odete, na verdade, estava viva, como indicou uma ação publicitária no intervalo que antecedeu a revelação sobre o assassino da vilã. Uma traição imperdoável contra os telespectadores.

Espremendo o suco publicitário, o que se assistiu ao longo dos sete meses foi uma trama irregular, com personagens superficiais. Sobraram críticas a Manuela Dias. Até mesmo Taís Araújo, a Raquel, que deveria ser uma das protagonistas da novela, reclamou publicamente. A personagem perdeu força na reta final. Em um dos capítulos da última semana, apareceu por meros 5 minutos.

Manuela entrou e saiu de assuntos com a mesma rapidez de um feed de rede social. Houve uma enormidade de cenas que ligaram nada a lugar nenhum. Muitas delas, típicas de dramalhões mexicanos. Exemplos: Aldeide disfarçada como uma criminosa na busca por um bebê reborn, a caçada por Maria de Fátima em um galpão abandonado e a Marco Aurélio em a fuga das galinhas para alcançar o jatinho para fugir do Brasil.

As novelas, atualmente, também são feitas para espectadores que veem cortes nas redes sociais e amam odiar. Foi assim que a novela pegou e ganhou fôlego nos últimos dois meses.

Ao contrário da versão anterior, que imprimiu o Brasil na tela de maneira provocativa, Vale Tudo de 2025 se mostrou pouco instigante em termos de teledramaturgia. Nesse sentido, não deve ser levada a sério.