O entusiasmo pela inteligência artificial impulsionou os mercados a níveis recordes este ano. Mas a forte ascensão também levantou preocupações sobre uma possível bolha.
A IA tem sido o tema dominante nos mercados desde 2022, quando a OpenAI lançou o ChatGPT.
Desde então, o otimismo se espalhou entre os investidores em relação a um potencial boom transformador da tecnologia, e enormes quantias de dinheiro fluíram para ações de tecnologia. Avaliações subiram para níveis historicamente altos.
Para alguns analistas e economistas, esses são sinais de alerta de que o mercado pode estar em uma bolha — quando os investidores aumentam os preços das ações além do que elas valem, criando uma alta insustentável que geralmente resulta em uma queda significativa, como visto durante a bolha das “ponto-com” que estourou em 2000.
“Impulsionados pelo otimismo sobre o potencial de aumento de produtividade da IA, os preços globais das ações estão subindo”, disse Kristalina Georgieva, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, em um discurso na quarta-feira (8).
“As avaliações atuais estão caminhando para os níveis que vimos durante o otimismo em relação à internet, 25 anos atrás”, disse Georgieva. “Se ocorrer uma correção brusca, condições financeiras mais restritivas poderão prejudicar o crescimento mundial”.
Jamie Dimon, presidente-executivo do JPMorgan Chase, disse que acredita que “a IA é real”, mas parte do dinheiro investido agora “provavelmente” será desperdiçado.
“Veja a IA, há muito dinheiro investido nela”, disse Dimon em entrevista à BBC. “A IA é real, a IA, no geral, vai render frutos. Assim como os carros, no geral, renderam frutos, e as TVs, no geral, renderam frutos. Mas a maioria das pessoas envolvidas não se saiu bem.”
Dimon também disse que acredita que há uma chance maior de uma queda significativa nas ações nos próximos seis meses a dois anos do que o que está sendo refletido no mercado.
“Estou muito mais preocupado com isso do que outros”, disse Dimon. “Eu daria uma probabilidade maior do que a que acredito ser precificada no mercado e por outros.”
“O nível de incerteza na mente da maioria das pessoas deve ser maior do que o que eu chamaria de normal”, disse ele, acrescentando que a geopolítica e o peso da dívida governamental estão contribuindo para a perspectiva incerta.
Nervosismo de bolha
Grandes empresas de tecnologia como Meta, Microsoft e Amazon gastaram centenas de bilhões de dólares em data centers e infraestrutura para desenvolver e impulsionar a IA, e reservaram centenas de bilhões de dólares para mais gastos.
Os resultados dessas empresas continuam impressionando Wall Street, apoiando as avaliações elevadas e a alta das ações.
No entanto, alguns investidores disseram que há dúvidas se os gastos e as aspirações de IA acabarão gerando retornos suficientes para justificar o enorme crescimento.
Há cada vez mais preocupações sobre se isso é sustentável e quais podem ser as consequências caso haja uma queda significativa nos mercados.
As preocupações sobre uma possível bolha se intensificaram nas últimas semanas, quando estrelas da IA como Nvidia e OpenAI anunciaram acordos com financiamento circular, o que levantou suspeitas de que os principais players poderiam estar sustentando o mercado.
O aumento nas avaliações e o surgimento do financiamento circular estão entre os aspectos que “rimam com bolhas anteriores”, de acordo com estrategistas do Goldman Sachs.
“Embora pareça que ainda não estamos em uma bolha, altos níveis de concentração de mercado e competição no setor de IA sugerem que os investidores devem continuar a se concentrar na diversificação”, disseram os estrategistas em uma nota.
Apesar das preocupações, tudo relacionado à IA tem tido alta demanda. A OpenAI anunciou na segunda-feira (6) um novo acordo com a empresa de chips AMD (Advanced Micro Devices), o que fez as ações da AMD dispararem quase 24%.
A alta gerou comparações com a bolha das “ponto-com”. No entanto, os investidores disseram que há uma diferença fundamental: as grandes empresas de tecnologia agora são realmente lucrativas e apresentam resultados sólidos.
“Ao contrário da bolha tecnológica dos anos 1990, que apresentou ações em alta de empresas iniciais não lucrativas, os fortes lucros das empresas de megacapitalização estão impulsionando a alta deste ano”, disse Eric Freedman, diretor de investimentos do US Bank Asset Management, em nota.
Mike Mullaney, diretor de pesquisa de mercados globais da Boston Partners, afirmou que o mercado está sinalizando território de “bolha leve”. Ele afirmou que o sentimento dos investidores ainda não atingiu os níveis de exuberância que sinalizariam que o mercado está no pico de risco.
“As avaliações, o posicionamento e os fluxos certamente sinalizam que estamos em território de bolha leve, mas o sentimento ainda não chegou lá”, disse Mullaney. “E, portanto, essa coisa ainda pode acontecer.”
A crescente influência da IA no S&P 500
As grandes empresas de tecnologia são uma parte cada vez mais influente do S&P 500, que é ponderado pelo valor de mercado das empresas. À medida que as ações relacionadas à IA levaram o mercado a máximas históricas, elas também se tornaram uma parte mais significativa dos planos de aposentadoria 401(k) das pessoas.
Embora o rápido crescimento das ações de tecnologia permita que investidores individuais e pessoas que poupam para a aposentadoria participem dos ganhos das empresas, ele deixa as pessoas vulneráveis a uma possível queda prolongada se uma bolha estourar.
Apenas sete ações — Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla — foram responsáveis por 55% dos ganhos do S&P 500 desde o final de 2022, de acordo com Howard Silverblatt, analista sênior de índices da S&P Dow Jones Indices.
O Banco da Inglaterra disse na quarta-feira que o risco de uma queda acentuada no mercado de ações aumentou.
“Em uma série de medidas, as avaliações do mercado de ações parecem esticadas, especialmente para empresas de tecnologia focadas em inteligência artificial”, disse o banco em um relatório trimestral.
“Isso, quando combinado com a crescente concentração nos índices de mercado, deixa os mercados de ações particularmente expostos caso as expectativas em torno do impacto da IA se tornem menos otimistas”, disse o banco.
1996, 2000 ou nenhum dos dois?
Em 1996, o então presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, perguntou se uma “exuberância irracional” poderia estar se instalando nos mercados financeiros.
Embora Greenspan tenha alertado que o mercado de ações poderia estar aquecido demais pela emoção, o pico da bolha das ponto-com só ocorreu quatro anos depois, em 2000.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse em 23 de setembro que as ações estão “bastante valorizadas”, gerando comparações com os comentários de seu antecessor 30 anos atrás.
Ed Yardeni, presidente da Yardeni Research, disse em nota: “Será que o mercado de ações está de volta à mesma exuberância irracional que inflou a Bolha Tecnológica de 1999, seguida pelo Naufrágio Tecnológico do início dos anos 2000? Talvez.”
“No entanto, o S&P 500 atingiu novas máximas este ano devido a lucros acima do esperado”, disse Yardeni. “Ainda temos como meta que o S&P 500 chegue a 7.700 até o final do ano que vem.”
Fonte: Site Oficial CNN Brasil