Eduardo Tagliaferro alegou “perseguição” contra ela, mas negou qualquer manipulação nos relatórios que eram produzidos sobre a deputada
17 set
2025
– 12h52
(atualizado às 12h53)
Resumo
Ex-assessor Eduardo Tagliaferro negou manipulação em relatórios de fake news sobre Carla Zambelli, mas afirmou que Alexandre de Moraes perseguiu a deputada.
Apesar de o perito Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ter afirmado que o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE à época, tinha “claro trabalho direcionado a perfis de direita” e argumentar que ele “perseguia” Carla Zambelli (PL-SP), o ex-assessor negou que houvesse qualquer manipulação nos relatórios que eram produzidos sobre a deputada.
Tagliaferro depõe como testemunha nesta quarta-feira, 17, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, que analisa o processo de cassação da deputada licenciada Carla Zambelli, que está presa na Itália após ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão por invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserção de documentos falsos. Ambos participaram da sessão por videoconferência.
Ao interpelar a testemunha, Zambelli relembrou uma condenação e questionou se os relatórios que originaram processos de fake news contra ela poderiam ter sido manipulados. A pergunta feita pela deputada referia-se à condenação que sofreu pela Justiça Eleitoral, que a obrigou a pagar R$ 30 mil por divulgar notícias falsas durante as eleições de 2022.
Na ocasião, Zambelli publicoun a alegação de que o sistema eleitoral estaria promovendo campanha antecipada a favor do então candidato e atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A acusação específica era de que isso seria feito por meio de um QR Code disponível no aplicativo oficial do governo, o e-Título.
“O senhor se lembra de alguma coisa como essa que estou dizendo? De que, eventualmente, o que eu dizia não era mentira, mas o ministro Moraes ou seus pares diziam: ‘Não, não, vamos dizer que é mentira, vamos anular e abrir um processo de fake news’. E, em seguida, o escritório do PT abria o processo de fake news. O senhor se lembra disso alguma vez?”, indagou ela ao ex-assessor.
Em resposta, Tagliaferro disse: “Dessa forma, deputada, não”. Ele explicou que seu trabalho consistia em compilar relatórios técnicos sobre publicações de perfis com grande alcance, seguindo um critério objetivo.
“Tinha uma regra para isso: mais de 1.000 visualizações ou 5.000 visualizações já era considerado ali para fazer um relatório”, afirmou. Ele defendeu que sua função se resumia a transcrever o conteúdo encontrado nas redes sociais de forma literal, sem julgamento. “Os relatórios que eram feitos independente do que eles traziam para o gabinete, era simplesmente o que tava lá. Se no perfil o senhor falava: ‘Banana verde’, colocava banana verde; ‘banana azul’, colocava banana azul”.
A deputada também questionou se houve manipulação no relatório sobre o episódio de 2022 em que foi filmada portando uma arma e perseguindo um homem em um bar no bairro dos Jardins, em São Paulo. Tagliaferro também negou.
Sobre a possibilidade de distorção por ordens superiores, ele afirmou que os relatórios podiam ser devolvidos com solicitações de aprimoramento, mas não de alteração do conteúdo. “De servidores do gabinete, nunca. Acontecia de um relatório ser encaminhado e retornar com pedido para colocar mais informação, mais link, mais vídeo, mais texto. Isso acontecia muitas vezes. […] Dizer que houve manipulação, nunca”, afirmou.
Zambelli foi condenada neste ano pelo STF, por maioria, a 5 anos e 3 meses de prisão pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma no caso do bar.
Embora tenha negado qualquer manipulação nos relatórios sobre a divulgação de fake news e crimes cometidos pela deputada, o ex-assessor sustentou que o ministro Alexandre de Moraes fazia “perseguição” contra Zambelli.
Quem é Tagliaferro
Para Flávio Bolsonaro, Tagliaferro transformou-se em um “ícone” por alegadamente possuir evidências de condutas arbitrárias de Alexandres Moraes.
O especialista é identificado como o autor do vazamento para a imprensa de dados provenientes do gabinete da presidência do TSE no período em que Moraes esteve à frente do tribunal (2022 a 2024). O episódio foi batizado de “Vaza Toga”.
Em agosto de 2024, a Folha de S.Paulo divulgou a primeira reportagem com diálogos obtidos do celular de Tagliaferro trocados com servidores do STF e do TSE. A matéria trouxe à tona que Moraes fez um pedido ao TSE para a elaboração de relatórios sobre indivíduos investigados nos inquéritos das fake news e das milícias digitais.
Essas trocas de mensagens teriam ocorrido entre agosto de 2022 e maio de 2023 — período que abrange a campanha eleitoral e os meses seguintes à vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à derrota do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na ocasião, a assessoria do gabinete de Moraes emitiu uma nota afirmando que solicitar informações a outros órgãos, como o TSE, é uma prática comum, e que a corte eleitoral detém “poder de polícia”. “Todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria-Geral da República”, declarou a nota.
Moraes, por sua vez, sustentou que, na condição de presidente do TSE — cargo que exerceu de agosto de 2022 a maio de 2024 —, estava autorizado a requisitar relatórios, não sendo necessário formalizar pedidos para si mesmo.
Com a abertura de investigações sobre o vazamento das mensagens, Tagliaferro foi exonerado e partiu para a Itália. Ele havia sido exonerado do TSE em maio de 2023, depois de ser detido e acusado de violência doméstica contra a esposa. Nesta terça-feira, 16, no entanto, a Justiça de São Paulo decidiu absolvê-lo por disparo de arma de fogo no caso.
Fonte: Site Oficial Terra