O diagnóstico de câncer de cólon que atingiu
Pelé
aos 80 anos trouxe à tona um alerta sobre um dos tipos de câncer mais silenciosos e letais, especialmente entre idosos. O Rei do Futebol faleceu em 2022 após um longo processo de tratamento, e seu caso reacendeu o debate sobre a importância dos exames preventivos e do olhar atento para os sinais do corpo na terceira idade. A oncogeriatra
Dra. Maria Laura Perini
explica por que a prevenção é fundamental e como é possível garantir qualidade de vida mesmo após um diagnóstico.
Segundo a médica, os idosos estão entre os mais afetados pelos diagnósticos tardios de câncer de intestino, principalmente por não realizarem colonoscopias regularmente, seja por medo, falta de acesso ou falta de orientação médica. Além disso, muitos atribuem sinais como cansaço, anemia ou perda de peso ao próprio envelhecimento, ou doenças crônicas preexistentes, o que pode retardar a busca por diagnóstico. “A evolução do tumor costuma ser lenta e insidiosa, o que dificulta a detecção precoce e contribui para que muitos casos só sejam identificados em estágios avançados”, alerta.
Para a especialista, casos públicos como o de Pelé têm o poder de quebrar o silêncio sobre um tema ainda cercado por tabus. “Essas histórias aproximam a população de um assunto que costuma ser evitado e deixam como lição que ninguém está imune, nem mesmo atletas com hábitos saudáveis. Além disso, mostram a importância de realizar a colonoscopia sempre que indicada e ficar atento a mudanças no padrão intestinal, sangramento nas fezes ou emagrecimento inexplicável”, reforça.
Entre os sintomas mais comuns do câncer colorretal em pessoas acima dos 60 anos estão alterações no padrão intestinal, sangue nas fezes, perda de peso sem causa identificável, anemia ferropriva, fadiga, fraqueza, desconforto abdominal e a sensação de evacuação incompleta. No entanto, esses sinais muitas vezes são confundidos com hemorroidas, diverticulite ou “mudanças normais da idade”, o que contribui para o atraso no diagnóstico.
É nesse cenário que a oncogeriatria faz diferença. Através da chamada Avaliação Global do Idoso, é possível identificar fatores de risco como desnutrição, alterações cognitivas e emocionais, fragilidade física, ausência de suporte social ou excesso de medicamentos. “A oncogeriatria permite adaptar o tratamento à realidade de cada paciente, ajudando médicos a tomarem decisões terapêuticas mais personalizadas. Assim, conseguimos não apenas aumentar a sobrevida, mas também preservar a qualidade de vida”, explica Dra. Maria Laura.
O tratamento oncológico em idosos exige uma abordagem cuidadosa e multidisciplinar. A médica destaca a importância da tomada de decisão compartilhada, respeitando os valores e preferências do paciente. Entre os principais cuidados estão a avaliação nutricional, estímulo à atividade física, ajuste das medicações para evitar interações e polifarmácia, além da prevenção de complicações como quedas, desidratação e desnutrição. O suporte emocional e social, tanto para o paciente quanto para a família, também é essencial durante todo o processo.
Ainda há um certo tabu em falar sobre intestino, fezes e hábitos alimentares. Para romper essa barreira, campanhas de conscientização como o Março Azul são fundamentais. “Falar sobre padrão intestinal é falar sobre saúde. O diagnóstico precoce muda o prognóstico e salva vidas. Casos como o de Pelé e da cantora Preta Gil ajudam a abrir espaço para o diálogo”, afirma a médica.
No que diz respeito à prevenção, a recomendação para pessoas com risco médio de câncer colorretal, ou seja, sem histórico familiar ou doenças inflamatórias, é iniciar a colonoscopia aos 45 anos e seguir até os 75, desde que a expectativa de vida seja superior a dez anos. Acima dos 76, a decisão deve ser individualizada, considerando o histórico e as preferências da pessoa.
A médica também destaca que viver bem após um diagnóstico de câncer de intestino é possível, especialmente quando a detecção é precoce e o tratamento bem conduzido. Hábitos saudáveis como alimentação balanceada, prática de exercícios, sono adequado, apoio emocional, espiritualidade e rede de apoio são fatores que contribuem para uma vida com mais bem-estar.
Por fim, Dra. Maria Laura faz um apelo às famílias que acompanham idosos em tratamento: “O suporte familiar é fundamental para garantir adesão, segurança e qualidade de vida. Estimular a hidratação, observar efeitos colaterais, auxiliar com medicações, estar presente em consultas e, acima de tudo, ouvir com atenção o paciente faz toda a diferença”.
Serviço ao leitor
• Atenção aos sinais: Alterações intestinais, sangue nas fezes e perda de peso devem ser investigados.
• Prevenção: Colonoscopia deve começar aos 45 anos em pacientes sem histórico familiar.
• Tratamento: Deve ser adaptado com base na condição geral, sempre com suporte multiprofissional.
• Família: Envolvimento da rede de apoio melhora adesão e qualidade de vida.
• Alerta: Diagnóstico precoce aumenta as chances de cura e reduz impactos funcionais.
Sobre a especialista: Dra. Maria Laura Perini é responsável pelo Serviço de OncoGeriatria do Hospital Santa Catarina Paulista e hospitalista no AC Camargo Cancer Center. É docente da Faculdade de Medicina do Hospital Israelita Albert Einstein e especialista em Geriatria pela USP, com título da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Tem fellowship em OncoGeriatria pelo ICESP.
Fonte: Site Oficial Terra