Sentar para tomar café da manhã com o jornalista e apresentador Pedro Andrade, em uma mesa na calçada em frente a uma de suas padarias favoritas em São Paulo, tem um quê de cotidiano. A sensação de naturalidade — mesmo sem nunca tê-lo encontrado antes — tem a ver com acompanhar suas viagens durante uma década nos canais GNT e CNN, com histórias que fisgam quem se interessa por cultura, gastronomia e pessoas.
Ele sabe como deixar uma conversa fluir e essa sempre foi uma das grandes características de seus programas. “Eu acho que ‘Pedro Pelo Mundo’ mudou a maneira como o brasileiro enxerga viajar. Eu briguei muito para que não fosse um programa de dicas, para que a pessoa não precisasse de uma passagem de avião para curtir. Eu queria que [cada episódio do programa] fizesse com que a pessoa viajasse sem sair do sofá”, relembra.
O acaso no comando
Sua vida, nesses 45 anos, tem sido uma viagem pilotada pelo acaso. Nascido no Rio de Janeiro, criado no bairro de Laranjeiras, nunca se identificou com a cartilha da cidade. “Nos anos 1980, ser péssimo em futebol no Rio já era meio caminho para não ser popular”, brinca. Nas palavras do próprio, uma criança esquisita, um menino nerd e inseguro que era bom em português, inglês e geografia e repetia em educação física e religião — nessa última, por ser muito questionador.
Foi justamente na saída do curso de inglês, aos 17 anos, que Pedro foi abordado por um agente que o convidou para trabalhar como modelo. Percebeu ali a oportunidade de realizar o sonho de viajar, herdado de sua avó. “Fui um modelo medíocre. Ainda assim conheci muitos lugares como Grécia, Japão e Itália. Essa experiência me ensinou a lidar com a rejeição, já que, de cada mil tentativas, você é aprovado em um ou dois trabalhos”, exagera.
Abandonou a carreira, voltou para o Rio, foi estudar jornalismo. Mas, no final do terceiro ano do curso, o convidaram para modelar em Nova York, uma cidade que sempre o fascinou. E foi ali que o inesperado tomou conta.
Ele morava em uma república cheia de modelos e procurava trabalhos em anúncios de jornal. Deu certo. Fez teste para apresentar um programa no tradicional canal de TV NBC e passou. Ali, apresentava um programa com dicas sobre viagens e estilo de vida, chamado “First Look”, exibido após o clássico “Saturday Night Live”, e ficou por quatro anos no comando da atração, no começo dos anos 2000.
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Quando os táxis de Nova York instalaram TVs internas, o primeiro rosto exibido dessa programação foi o de Pedro Andrade, com trechos e dicas do programa da NBC, sugerindo passeios, restaurantes e hotéis em Nova York. Numa dessas viagens de táxi, outra obra do acaso. Foi visto por Rose Ganguzza, esposa do jornalista Lucas Mendes, que o recomendou para o marido. Acabou no “Manhattan Connection”, outra marca poderosa da TV, então exibido nos canais Globosat (desde 1993 no GNT e depois, de 2011 a 2020, na GloboNews). Primeiro como convidado, sempre trazendo dicas do que estava acontecendo de mais quente em Nova York. Depois, encarou a bancada pesada, com Lucas Mendes, Caio Blinder, Diogo Mainardi e Ricardo Amorim. “Quando me convidaram, eu falei para o Lucas Mendes que aceitaria, mas não seria o café com leite da bancada. E eles nunca me trataram assim”.
Hoje, se chega de cabeça erguida e não se intimida entrevistando qualquer pessoa, é muito por conta do período que estrelou o “Manhattan”. Foram 12 anos semanalmente se aprofundando nos assuntos. “Hoje, eu falo das eleições na Índia ou da situação política no Quirguistão com propriedade. São aprendizados que me tornaram o homem que eu sou”, pontua.
Para fazer o Manhattan Connection, eu estudava muito, passava as quintas-feiras em claro, lendo para poder conversar com eles sobre assuntos complicados como política externa ou economia.
De Manhattan, as conexões se abriram para Pedro Andrade. A partir de 2016, apresentou o “Pedro Pelo Mundo” por cinco temporadas no GNT, visitando mais de 70 países. Depois, “Entre Mundos”, por quatro temporadas na CNN Brasil, focado em comunidades. E, em 2023, uma incursão na “Amazônia Desconhecida”, visitando os diferentes grupos de pessoas que moram na bacia amazônica.
Uma nova conexão
Entre os quatro cantos do mundo e os dilemas da geopolítica internacional, uma nova conexão interna se apresentou. Pedro e o marido Benjamin Thigpen — hairstylist de estrelas de hollywood, como Timothée Chalamet, e grandes produções, como “The Last of Us”, empreendedor e diretor de criação—, sonham desde que se conheceram, há 16 anos, com a paternidade.
“Isabel foi um plano conjunto, que exigiu muito planejamento”, conta, orgulhoso. A opção por uma barriga solidária se cristalizou após um programa que Pedro fez sobre o tema, mostrando todo o processo e como é rigorosamente regido legalmente nos Estados Unidos. “É um processo meticuloso, caro, mas que vale cada centavo. A Isabel foi muito esperada, a gente acompanhou tudo de perto e ficou na contagem regressiva”, revela.
Whitney, a mulher que gerou a Isabel, é uma veterinária que ele classifica como uma pessoa espetacular, forte, de uma generosidade impressionante. “Ela se sente muito recompensada em poder ajudar a transformar a vida de outras pessoas, conta com o apoio total da família. Acompanhamos todos os ultrassons, todos os exames”, explica.
Isabel nasceu no Havaí, em janeiro de 2024, com Pedro, Ben e o marido de Whitney presentes.
“Acho que é importante continuar sendo o homem que era, tendo os sonhos que tinha, mas agora, grande parte da empolgação é acompanhá-la desabrochar, ver o que ela aprende com o mundo”, explica.
Esse novo sentimento, com a curiosidade que sempre pautou seus projetos e a vontade de ter conversas profundas com gente de todos os cantos, são os pontos centrais da nova série documental (e muito autoral) que Pedro vai lançar pela HBO Max. Chamada “Um Tanto Familiar”, vai investigar as diferentes estruturas familiares pelo mundo. “Esse é o projeto dos sonhos, muito precioso e completamente diferente de tudo que já fiz”, antecipa.
O fio narrativo é a jornada dele e de Ben até chegar Isabel. É a primeira vez que o apresentador também será personagem. “Vou abrir a minha casa, mostrar minha família, meu marido, minha filha. A série não é um reality show, mas foi gravada de uma forma que captura as emoções em tempo real. Vocês poderão ver como reagimos quando vingou o embrião, a revelação de que seria uma menina, acesso total a partes íntimas da minha vida”, revela.
Dividida em oito episódios, a série é abrangente: explica como funciona o processo de adoção na Coreia do Sul, a educação do Japão, como é ser mãe solo ou pais mais velhos, e até uma nova tendência chamada “foster families”, que são famílias temporárias. “Imagina você adotar uma criança por um tempo, dar todo o amor possível e depois devolver?”, instiga.
“Um Tanto Familiar” é dirigida por Tatiana Issa e Gustavo Nasr, mesmo time que lançou “Pacto Brutal”, sobre o assassinato da atriz Daniella Perez, da HBO Max. “É um mergulho nas histórias dessas novas estruturas familiares. No primeiro episódio, vamos até a Itália. Lá, se tivéssemos usado uma barriga de aluguel para ter a Isabel, a gente poderia ter que pagar uma multa de 5 milhões de euros e passar dois anos na cadeia. E a gente retrata a coragem de casais que enfrentaram isso para concretizar um sonho do qual eu compartilho”, conta.
Pedro fica ansioso para saber o que a filha vai achar de tudo isso e quer acreditar que ela vai ter orgulho dele, desse projeto, do amor e das escolhas que fez, como pai e como homem.
Fonte: Site Oficial Terra