Resumo
Mãe e filha, diagnosticadas com câncer de mama com 10 meses de diferença, enfrentaram juntas o tratamento, superaram a doença e agora estão em remissão, destacando a importância do diagnóstico precoce e da prevenção.
Aos 23 anos, enquanto acompanhava o tratamento de câncer de mama da mãe, a jovem Helena Colino foi surpreendida com o resultado dos seus exames: ela recebeu o diagnóstico da mesma doença. “A gente estava naquele clima de vitória, terminando o tratamento da minha mãe e não conseguimos comemorar. Na sequência, veio esse baque. Eu estava com câncer de mama também”, lembra Helena, hoje com 26 anos.
Essa parte da história de vida das duas começou em 2023. Primeiro veio o diagnóstico da mãe, a professora Letícia Colino, 48 anos, moradora de São José dos Pinhais, no Paraná. Na época, com 46 anos, ela conta que começou a sentir um nódulo durante o autoexame, mas inicialmente achou que era da cirurgia plástica que tinha feito. Após perceber que o nódulo aumentara de tamanho e fazer o check-up anual no início daquele ano, no entanto, descobriu um tumor Luminal B com mais de 5 cm.
“Na hora, eu perdi o chão. Não quis contar logo para a Helena, contei só depois de um tempo, porque era muito doloroso, não queria que ela sofresse. Fui aguentando sozinha, é uma fase terrível. Eu falo que a fase do diagnóstico é pior até do que o tratamento, é um buraco enorme, porque você tem esperança que pode ser outra coisa. Foi muito difícil”, detalha Letícia, em entrevista ao Terra.
Com o diagnóstico em mãos, a professora iniciou o tratamento em março: passou por várias sessões de quimioterapia, exames complementares, radioterapia, fez mastectomia bilateral –cirurgia para retirada das mamas– e continua até hoje com a hormonioterapia.
O diagnóstico de Helena
Durante o processo, Letícia também pediu para fazer um exame genético e o resultado confirmou uma mutação (BRCA2) associada ao surgimento do câncer. Foi nesse momento que a filha, Helena, recebeu da mastologista a orientação de realizar exames para acompanhamento.
Helena recorda que a ecografia identificou alguns cistos, mas isso não a preocupou. “Eu pensava que só com uns 40 anos eu precisaria me preocupar com isso, tinha plena certeza que isso não acontecia com gente da minha idade”, diz.
Mas, em janeiro de 2024, ela realizou uma ressonância magnética e uma biópsia e o resultado foi um tumor de 5 cm na mama esquerda, em estágio 3 — quando o tumor cresce e pode ter se espalhado para tecidos próximos.
“Eu não tinha nenhum sintoma. Acompanhei todo o tratamento da minha mãe, a gente viveu na mesma casa sem saber que as duas estavam com câncer. Eu não tinha nódulo que conseguisse sentir, não tinha dor nem indisposição”, conta a jovem.
O único indicativo que ela tinha era o mamilo invertido. “Achava que era só uma imperfeição estética.” Só que, depois, Helena descobriu que esse também era um sinal de alerta: como o tumor estava bem atrás do mamilo, isso provocava o recuo dessa estrutura central da mama.
“Lembro que quando saiu o resultado, eu voltava várias vezes para ver se era o meu nome mesmo. Eu não conseguia acreditar. Achava que tinham trocado o meu exame. Com minha idade, eu nunca tinha escutado uma história dessa.”
Do choque inicial ao tratamento
O início do tratamento de Helena também foi muito marcante para mãe e filha. Em 17 de janeiro de 2024, Letícia fazia sua última radioterapia e, no dia seguinte, a filha iniciava a quimioterapia.
“Foi bem triste. Eu não conseguia nem pensar no meu tratamento, eu só conseguia pensar no que ela ia passar. Quando chegou o último dia, que era o dia de eu tocar o sino no Hospital Erasto Gaertner [ao final do tratamento oncológico, os pacientes tocam um sino para simbolizar o final de uma etapa no hospital referência em Curitiba (PR)], eu falei que não queria, que eu ia esperar minha filha terminar o tratamento dela e a gente tocar juntas. E foi isso que aconteceu”, afirma Letícia.
Helena fez um tratamento parecido com o da mãe e, após alguns meses, exames de imagem confirmaram que o tumor dela não existia mais e que uma parte da batalha estava vencida. “O da minha mãe reduziu de tamanho. Mas o meu desapareceu completamente.”
“Quando tocamos juntas o sino, no dia 30 de setembro [do ano passado], foi muito emocionante. Foi muito festivo, a gente até comenta que não paramos mais de comemorar. Todo dia é uma festa, todo dia é o melhor dia do mundo”, celebra Helena.
Atualmente, as duas estão na fase de remissão do câncer — quando os exames não detectam sinais da doença; a remissão pode ser parcial ou completa — e fazem acompanhamento constante com médicos.
Processo todo documentado
À medida que o tratamento de Helena acontecia, a jovem, que estava no último ano do curso de Design na faculdade, teve a ideia de documentar todo o processo e apresentou o material como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
“No último ano da faculdade, eu decidi que ia fazer um documentário, mas era sobre outro tema. Mas, quando recebi o diagnóstico, foi uma das primeiras coisas que pensei. Fui gravando o que eu sentia, coisas que as pessoas precisam ver. Explicava algumas coisas em termos simples, como o que é quimioterapia, a diferença para radioterapia”, explica.
No dia 29 de outubro, o documentário dela, intitulado Não há mal que dure cem anos, será exibido, de forma gratuita, no Mindhub – Hub de Inovação, na capital paranaense, como parte da programação do Outubro Rosa, mês da conscientização sobre o câncer de mama, um dos tipos que mais afetam mulheres no Brasil e no mundo
Mãe e filha ainda destacam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, além de fazer o exame genético. “Muda tudo. Câncer é tempo. Se eu tivesse descoberto um pouco antes, talvez eu teria passado por um tratamento mais leve. Quanto antes descobrir, melhor”, diz Letícia. “E, claro, você tem uma chance de sobrevida muito maior quando você tem um diagnóstico precoce”, acrescenta Helena.
Fonte: Site Oficial Terra